6.11.06

Segunda-feira

Segunda-feira é f***. Segunda-feira de manhã então é a pior coisa que existe.
O nosso ritmo normal, estabelecido pelo nosso corpo no final de semana, é quebrado. No fim de semana não somos escravos do relógio e é o nosso próprio organismo que estipula o que devemos fazer de acordo com a sua necessidade, o que na minha opinião só pode ser saudável.

Mas aí vem a segunda-feira de manhã e, com um sonoro safanão bem no meio do descanso sagrado do nosso corpo e da nossa mente, nos tira da rotina biológica saudável do final de semana e nos faz levantar correndo.

Os primeiros momentos da segunda-feira são os mais difíceis, porque são eles os responsáveis por nos tirar daquela situação confortável do fim de semana. E tem gente que não percebe a importância da paz e da tranqüilidade nesta hora.

Toda segunda-feira de manhã eu tenho que pegar ônibus da cidade onde moro no fim de semana para a cidade onde moro durante a semana. É mais ou menos uma hora de viagem, que começa exatamente às 6h30 da madrugada (hora em que tudo que uma pessoa normal deseja é estar dormindo placidamente).

Eu chego, compro minha passagem, entre no ônibus e, antes de dormir, rezo. Rezo para que eu consiga ter mais uma horinha dormindo gostoso. Rezo para que as pessoas que viajarem no mesmo ônibus que eu desejem também dormir tranqüilas, e não fazerem um resumo do final de semana ou pensarem na vida assobiando.

É verdade! Pode dar risada, mas é verdade. Já aconteceu de tudo nestes 2 anos de viagens toda segunda-feira de manhã.

Uma vez um senhor entrou no ônibus, sentou no banco exatamente atrás de mim e começou a assobiar, olhando pela janela. Um assobio tão alto que impedia que meus olhos de ser fecharem, mesmo às 6h30 da madrugada.

Hoje aconteceu outra. Justo hoje, a primeira segunda-feira depois da mudança para o horário de verão, o dia mais difícil do ano de se levantar! Cheguei no ônibus imaginando que o pessoal ia estar com sono, ia aproveitar pelo menos essa segunda-feira pra dormir em paz.

Mas eis que entram ali dois caras. Acho que eles são amigos-de-ônibus. Sabe aquelas pessoas que você sempre encontra pelo meio do caminho mas que, na verdade você não conhece? São pessoas que você encontra sempre no mesmo lugar – o cara da padaria que sempre compra 3 pãezinhos de manhã com o jornal debaixo do braço, a moça no elevador que todo dia abre a bolsa e fica procurando o crachá para bater o ponto, o cara que sempre pega ônibus no mesmo horário que você – e de tanto encontrar com elas, você passa a cumprimentar, comentar alguma coisa sobre o tempo ou sobre como o fim de semana foi bom, etc. estes são o amigo-da-padaria, a amiga-do-elevador, o amigo-do-ônibus...

Mas voltando à minha segunda-feira de manhã, os tais dos amigos-de-ônibus entraram às 6h30 no ônibus, sentaram-se a mais ou menos 3 bancos de distância um do outro (e não é porque não tinha lugar, acho que é aquele preconceito idiota de que homem não senta com amiguinho, ou então eles não queriam dar um passo a mais na relação amigo-de-ônibus... ah, sei lá porque!) e começaram a conversar!

É isso mesmo! Sentados a 3 bancos de distância um do outros, os dois caras começaram a falar sobre futebol. Deram o resumo esportivo do final de semana e aproveitaram para acrescentar os comentários e previsões para o próximo campeonato, as contratações e escalações.

E para terminar essa conversa tão agradável, num horário tão oportuno, eles começaram a discutir o próprio horário de verão, que deixa todo mundo com sono, que àquela hora era, na verdade, 5h30, e que bom mesmo seria estar dormindo. E por mais longos 20 minutos eles continuaram neste assunto, falando que àquela hora era melhor estar dormindo, falando alto para que um pudesse ouvir o outro, mas sentados a 3 bancos de distância. E eu pergunto: dá pra entender?



6 de novembro:- (1964) O Congresso Nacional Brasileiro aprova um projeto de reforma agrária.

1.11.06

Paradoxo

Cada vez que uma pessoa próxima vai embora eu fico pensando na vida, tentando inutilmente achar sentido em algumas coisas. Tomo decisões fugazes, encho minha cabeça de dúvidas e, por fim, volto à minha vida.

Fico pensando em todas as coisas que eu queria fazer. Sinto que tem um mundo inteiro me esperando, e que eu é que não posso mais esperar.

Sinto uma angústia. Alguma coisa fica sussurrando no meu ouvido, dizendo que não vai dar tempo de fazer nada. Acho que sofro da síndrome do coelho da Alice. Pra mim, parece que é sempre tarde. É tarde, é tarde, é tarde! Não vai dar tempo!

O tempo está passando e eu estou aqui, sentada numa cadeira em frente a um computador me embriagando com imagens e informações virtuais, adquirindo uma pseudocultura de banheiro com coisas que eu quero, na verdade, ver, sentir, tocar e aprender ao vivo.

O tempo vai passando e eu vou conhecendo lugares maravilhosos apenas através de livros. Dos livros e das imagens que minha mente produz a partir do que leio neles. E isso mostra para mim o quanto é falsa a minha sensação de liberdade à noite, quando eu chego na minha casa e posso fazer de janta o que eu quiser. Isso mostra que minha autonomia de ir e vir não vai além da padaria na esquina.

E depois de uma breve depressão, acabo me convencendo de que um dia farei tudo que sonho. Um dia eu terei tantas histórias que eu terei que escrever um livro. Acabo me convencendo mais pelo cansaço de me sentir assim do que por qualquer outro motivo, porque eu gosto de gostar da minha vida.

É paradoxal, eu sei. Porque se eu fizesse tudo o que passa pela minha cabeça quando eu entro neste estado filosófico que sucede uma despedida eu teria que deixar para trás um monte de coisas maravilhosas que eu vivo e que são incompatíveis com muitas das coisas que eu desejo. E eu não quero deixar nada pra trás.

Acho que eu é que sou complicada. Aposto e ganho que se vivesse as outras coisas que quero e não vivo, eu ficaria assim também. E acho que não seria só depois das despedidas. Seria muito mais.

Mas a melhor parte de ser assim complicada, com tantas vontades e tantos sonhos, sem dúvida nenhuma, é ter do meu lado alguém que sente isso. Que quer muitas coisas diferentes, mas comigo junto. E que não quer deixar nada pra trás também.

A melhor parte de assim enrolada é que um dia, quando eu falei que eu sou complicada, o homem da minha vida disse que não me via como um rolo, mas como solução.



1º de novembro
- dia de todos os santos(1512)
- as pinturas de Michelangelo no teto da Capela Sistina são exibidas ao público pela primeira vez.