29.12.08

Saudade

Estou triste. Mal você colocou um ponto final nessa história e já sinto saudades.
Sinta falta de deitar com você na cama e ficar brigando contra o sono, só pra poder aproveitar um pouquinho mais a sua companhia. Não sei como vou ficar agora sem suas palavras, mesmo as amargas.

Eu sei que a culpa é minha, que fui rápido demais e que por isso esse fim chegou assim, de repente, me deixando parada, de boca aberta. E o pior é que quanto mais rápido eu mergulhava nessa nossa relação, mais próximo eu via o fim, mas eu não podia parar. Não naqueles momentos tão mágicos, tão íntimos, em que eu degustava cada pedacinho seu, saboreando cada detalhe seu com verdadeira fome.

Você pode dizer que outros virão e me deixarão tão ou até mais feliz que você. Outros me farão chorar. Tantos outros vão passar pela minha vida e me deixar marcada. E eu sei tudo isso. Ainda agora, enquanto choro nosso fim, já procuro outro para o seu lugar.

Não me critique por isso, por favor. Você é único, e sempre será especial. Nunca vou esquecer tudo que vivemos, mas você sabe que eu não sei ficar sozinha. Por isso vou até a estante me jogar nas páginas de outro.

Odeio quando isso acontece, e isso sempre acontece quando acabo um bom livro.

11.12.08

Química

Eu olhei para o céu e vi centenas, milhares de pára-quedas de celofane azul. Imensos, abertos. Mas eles não caíam, apenas flutuavam suavemente.

E conforme eu me perdia nessa dança azul, um gosto adocicado tomou conta da minha boca. Um gosto que me fez fechar os olhos para que eu pudesse sentir melhor e ser completamente só daquele gosto. Pertencer a ele. Um gosto delicadamente doce que começou a pinicar a sola do meu pé levemente, e que puxava os cantos da minha boca em direção às orelhas.

Mesmo que eu não quisesse, meus lábios se esticavam até as bochechas. Mas o caso é que não tinha querer ou não querer. A pinicação no pé começava a virar cosquinha (diminutivo carinhoso de cócegas, para quem não sabe) e o estômago gelava e se contraía, me fazendo rir incontrolavelmente.

Depois de ficar quase sem ar, aos poucos meu coração foi se acalmando, a respiração desacelerando. Minha pele estava gelada e o ar em volta de mim ficou quente, tão quente que senti um cheiro seco, vermelho, me sufocando. E aquele ar quente e vermelho era denso, tão denso que eu não tinha força de puxar para dentro do pulmão.

Os olhos foram escurecendo, escurecendo, e um medo angustiante deixou vazio tudo que tinha dentro de mim, como se minha alma estivesse aos poucos se desgrudando do meu corpo. E tudo ficou preto e gelado tão rápido que minha cabeça rodou, rodou, até que vi uns pontinhos brilhando no meio da escuridão.

Então percebi que havia anoitecido e as estrelas olhavam para mim. Todas elas observavam cada movimento meu, por menor que fosse.

O único movimento que fiz foi abrir os braços olhando para elas, para sentir aquele abraço protetor de veludo preto brilhante que me fazia a pessoa mais livre do mundo. Livre para ser eu mesma, para sempre.

Não, não é vício, é só a química. A química que existe entre nós.