27.1.12

Obrigada

Obrigada por tudo.

Por estar sempre comigo, saber de tudo que acontece em minha vida e não me julgar. Obrigada, principalmente, pelo seu silêncio quando confesso meus pensamentos mais obscuros.

Obrigada por me ajudar a por tudo pra fora, a organizar meus pensamentos e por mostrar para mim a real dimensão dos meus problemas.

Você tem sido perfeito. Sem você, eu não teria conseguido nem colocar minhas contas em dia, imagina então minha vida! Aliás, eu não consigo pensar na minha vida sem você.

Eu sei que às vezes abuso da sua boa vontade, e que você pode achar que eu só te uso e depois jogo fora. Não pense assim. Tudo que nós vivemos juntos vai ficar para sempre na minha memória. Algumas coisas eu até queria esquecer, mas, além de meu confidente, você é uma espécie de arquivo... depois que exponho para você qualquer coisa, ela parece que fica gravada em mim.

Obrigada por aguentar minhas histórias repetidamente, incansavelmente. Again, and again, and again, and again. E por suportar algumas gafes terríveis, eu confesso, e me dar a oportunidade de apagar tudo e começar de novo. E por permanecer ali, totalmente à minha disposição, enquanto eu penso no que falar, mesmo que isso demore o dia todo e a gente fique só olhando um para a cara do outro. E pelos momentos de mau humor. Sei que às vezes passo dos limites e peso a mão. E você continua ali comigo.

Mas, fala a verdade, eu também tenho meus bons momentos. Tem hora que eu sinto até um certo orgulho de algumas coisas que divido com você. Claro, você é fundamental nisso, juntando informações para me ajudar, me lembrando de algumas coisas, e me dando espaço total para eu ser quem eu quiser. Nessas horas... ah! A gente forma uma bela dupla, hein!

Ai, papel, o que seria de mim sem você?


PS: esse agradecimento também é válido para o “papel do word” em que eu digito!

26.1.12

Sobre escolhas e prioridades

A vida é feita de escolhas. Talvez esse seja o maior clichê da face da Terra. Mas, pelo que vejo, essa frase tem sido muito mais falada do que entendida por aí.

Casar ou comprar uma bicicleta? Fazer Letras ou Medicina? Comprar um carro ou viajar pelo mundo? Alguns momentos, normalmente aqueles em que tomamos uma decisão que vai mudar nossa vida, deixam clara essa questão das escolhas. O fato é que não é só nesses grandes momentos que fazemos nossas escolhas. Aliás, as grandes escolhas de verdade são aquelas do dia a dia, aquelas que não envolvem sonhos - porque, no fundo, esses tais momentos que deixam clara essa questão da escolha, têm mais a ver com realização de sonhos, são resultado de tudo que pensamos e desejamos ao longo da vida.

As escolhas de verdade, aquelas que mostram quem você é e, paradoxalmente, definem quem vocês é, são aquelas que fazemos sem ter tempo de sonhar, aquelas que nunca pensamos que teríamos que fazer. E exatamente pela natureza imprevisível destas questões é que elas revelam e definem quem somos, porque a única forma de fazer essas escolhas é seguir nosso instinto, que faz valer nossas prioridades.

Não existe certo ou errado. Existe você, suas prioridades e suas escolhas. Sim, você é responsável por essas escolhas. Mesmo quando decide não escolher e deixar que a situação se resolva sozinha, você está escolhendo não tomar nenhuma atitude. E, normalmente, quando é assim, você até já sabe onde tudo vai dar, mas a verdade é que você não quer assumir que escolheu efetivamente aquele caminho ou aquele resultado, e sempre vai ter a muleta do “eu não pude fazer nada”, “eu não tive escolha”.

Sim, você teve escolha. Mas talvez você ache que sua prioridade não seja assim tão louvável. Não é culpa sua. Talvez as pessoas, a sociedade, o mundo, ou você mesmo, esperem coisas maiores de você, e se revelar extremamente humano poda causar algum desconforto, vergonha, ou medo de ser julgado.

Talvez suas prioridades só sejam um pouco diferentes das que as pessoas costumam ter. Ou talvez sejam as mesmas que as pessoas preferem esconder que também têm. Talvez seu emprego seja mais importante que sua saúde, seus amigos sejam mais importantes que seu chefe, o amor da sua vida seja mais importante que sua família, talvez sua consciência importe mais que sua conta bancária, talvez sua imagem importe mais que seu saldo. Ou vice-versa. Quem sabe?

A vida, a história, as experiências e expectativas são suas. Você escolheu. Infle o peito, sim, e conte para quem quiser ouvir aquelas escolhas que fizeram você sentir orgulho de si mesmo. Ou junte todas e escreva um livro. Transforme essas escolhas em exemplos, faça com que os velhos admirem e os jovens queiram ser como você.

E quanto àquelas escolhas que você fez e que não são exatamente motivo de orgulho, quanto àquelas que você deixou de fazer por medo, vergonha ou preguiça de pensar, e ainda quanto àquelas escolhas que você deixou que outra pessoa fizesse por você, através das prioridades dela... assuma que todas elas foram, sim, escolhas suas. Não precisa ser para quem quiser ouvir, nem num livro. Mas tenha consciência, por mais difícil e doloroso e vergonhoso que possa ser, de que foi você, sim, o responsável por elas. E tente dormir em paz com isso.

23.1.12

Entrelinhas

Enquanto ela falava, eu ficava ali pensando se ela sabia que eu sabia que era tudo mentira.
Não que eu não estivesse ouvindo. Eu estava. Cada palavra. E usando cada palavra para tentar desvendar esse mistério: será que ela sabia?

Eu sabia que tudo estava para terminar, nossa relação já estava desgastada. Eu já estava cansado de ceder e ela ainda não estava pronta para começar. Mas a questão não era o que eu sabia. Para mim tudo estava claro e, mesmo com o fim, tranquilo. Só essa curiosidade que ficava ali cutucando meu cérebro enquanto ela sorria um sorriso de satisfação.

Será que ela sabia que nós dois estávamos ali mentindo um para o outro? Não que fosse preciso, tudo já tinha terminado, não tinha mais volta. Se um dos dois quisesse, aquela era a hora de falar tudo que estava engasgado, de lavar roupa suja, de jogar na cara. Mas não foi assim. E eu podia até falar que era por respeito a tudo que a gente viveu junto, afinal, foram anos, mas o que existia entre a gente, nos últimos tempos, era pura aparência. Um suportava o outro enquanto ninguém achava um motivo minimamente justificável para por fim àquilo tudo.

Enquanto nenhum dos dois encontrava uma razão, ou não perdia a razão e terminava tudo, como os dois queriam, o que eles tinham se resumia a uma convivência tão pacífica quanto um acordo de cavalheiros do velho oeste, mas funcionava. Cada um fazia o que tinha que fazer e todo mundo em volta achava que estava tudo bem. Simples assim. E isso não é exatamente o que se pode chamar de respeito.

Mas, enfim, ela resolveu dar o primeiro passo. Honestamente, não sei se por medo, insegurança, ou se já tinha arrumado alguém para o meu lugar - o que, modéstia à parte, acho improvável. O fato é que ela resolveu dar cabo dessa relação que já estava aos trapos.  

Assim, como que numa inércia do que vinha sendo há alguns meses - talvez anos, quem sabe? - ela me disse adeus sorrindo. Ou será que não era inércia, e sim o primeiro sorriso sincero que eu recebia dela em muito tempo? Era essa a questão. Será que ela sabia que tudo aquilo era mentira? Será que ela sabia que EU sabia que era mentira?

Sei que ela andou dizendo poucas e boas por aí. Sei que colocou algumas palavras em minha boca. Sei que sua versão da história foi a mais contada e não me importei muito em mostrar a minha. O tempo se encarrega de mostrar a verdade, eu tenho paciência para esperar e não tenho medo do que pode ser revelado.

Ela sempre teve uma imagem impecável, daquela que todos querem ser quando crescer, mesmo os mais crescidos. E só com muito tempo e muito cuidado é que alguns percebem essa face que ela trabalha arduamente para esconder e, com sucesso, consegue, tenho que reconhecer. Eu, honestamente, ainda não sei dizer se esse lado obscuro tem consciência de sua existência e é assim por opção, ou se a insanidade é tão grande que ela criou um mundo paralelo a este e vive nos dois, sem saber distingui-los.

Se ela tem tanto trabalho para escolher cada palavra de cada um de seus discursos, eu só posso chegar à conclusão de que ela tem consciência, sim, desta sua faceta não tão louvável. Mas sua atuação é tão perfeita que me deixa em dúvida se é atuação realmente. Então penso que ela é assim mesmo e a única explicação plausível é a vida dupla que ela leva neste e naquele mundo imaginário que ela criou.

O fato é que, nas entrelinhas daquele sorriso final, minha pergunta vai ficar sem resposta: ela sabe que ela mesma está mentindo?