26.8.08

Descoberta

E a menina de quatro anos chegou correndo, esbaforida, com uma cara assustada de quem tinha acabado de descobrir o mais incrível e impensável segredo de nossa existência. Um segredo quase indizível, mas tão claro que era praticamente impossível não ser certo. A verdade absoluta, nua e crua, por mais absurda que pudesse parecer.
- Mãe, descobri uma coisa...
Pausa para uma respiração profunda, um arregalar de olhos e a certeza indiscutível.
- A gente tem uma caveira dentro da gente!

18.8.08

Num instante

Então é assim que tudo se acaba. De repente.

Não importa quanto tempo já tenha se passado, quanto sofrimento já se tenha agüentado, quão forte a gente seja. Tudo acaba em um único instante.

É. E, de repente, não é mais.

Bem ali, diante dos nossos olhos. Que se abrem incrédulos para ver se enxergamos um sentido nisso tudo, mas a pupila dilatada deixa a realidade turva. Ou talvez mais clara. Talvez a realidade seja assim mesmo, mais dura do que costumamos ver no dia-a-dia.
Talvez a correria do dia-a-dia amacie nossa percepção do mundo. A falta de tempo deve ser um truque para que a gente não pare, não pense e não viva em função deste único instante.

Porque, afinal de contas, é um instante tão rápido que não devia guiar nossas vidas. Mas ao mesmo tempo tão impiedosamente definitivo que quando ele vem é como um balde de água fria nos acordando de um sonho.

E esse único instante é seguido de um longo tempo indeterminado que tem como função maltratar a memória e sufocar qualquer sorriso. Um tempo cheio de perguntas sem resposta, cheio de vazio.

Quando será que isso vai passar? Quando a gente vai acordar? Quando será que vai chegar outro instante e nos derrubar? Quantos desses instantes a gente pode agüentar?

E aí nos vêem também aquelas perguntas que costumamos evitar e que esses instantes trazem à tona: Estou no caminho certo? Ou pior: estou no caminho que eu quero?

Não sei. Só sei que esse caminho vai acabar num único instante.

11.8.08

Eu quero ficar sozinha

Cansei das pessoas. Das que estão sempre certas e as que nunca conseguem acertar.

Enjoei de todo mundo que acha que pode tudo e de quem não pode fazer nada.

Meu saco encheu de tanta gente cheia de opinião, de gente que se acha louca, de gente que se acha ponderada, de gente que acha que só os seus defeitos são apontados e de gente que acha que todos os defeitos apontados são dos outros. De quem se acha o umbigo do mundo e de quem não se enxerga.

Estou entediada com tantas vozes, tantas regras, tanta educação e tanta falta dela.

Não agüento mais essas caras de tédio me cercando. E aquelas outras caras de feliz. E aquelas caras de bunda.

Cansei de todo mundo, quero ficar sozinha, porque as pessoas me irritam. As pessoas que têm um discurso politicamente correto e uma vida imoral me irritam. Todo mundo que sabe mais do que todo mundo me irrita.

Até esse texto sem propósito nenhum, a não ser gritar que todo mundo enche o meu saco, me irrita.

Chega por hoje. Ainda é segunda-feira, mas eu estou indo embora.