9.4.12

O que é o amor



Quinta-feira, véspera de Sexta-feira Santa. Como íamos viajar à noite, fui ao supermercado comprar itens obrigatórios para a mala e que nunca temos em casa, com protetor solar e fralda de piscina para o filhote. E o ovo de Páscoa do maridão, claro.

Estacionamento lotado, seção de ovos de Páscoa mais lotada ainda! Um empurra-empurra de clientes de braços levantados tentando ver se o chocolate escolhido estava realmente inteiro, misturados com funcionários tentando distribuir todo estoque de ovos do mundo em ritmo frenético, todos cercados de carrinhos e crianças por todos os lados. E eu ali no meio, procurando um ovo gostoso, com embalagem bonita, para presentear meu marido. Ele merece!

Escolhido o doce, vem a fila quilométrica a ser enfrentada. Enfrentada a fila, o sol escaldante, que nos deixa animados para a praia do fim de semana, desafia o chocolate a permanecer na forma de ovo dentro do carro sem ar-condicionado.

Antes que alguém chegasse em casa, abri a geladeira e escondi o ovo na gaveta da parte de baixo da geladeira, porque aqui em casa ela é relegada ao mais profundo esquecimento, e também porque ali o chocolate não derreteria até domingo à noite, quando estaríamos de volta e eu surpreenderia meu marido com seu presente.

Tudo planejado, era só agir naturalmente para que ele não desconfiasse de nada - isso pode até parecer bobo para a humanidade, mas, para mim, não entregar minhas próprias surpresas é um esforço sobrenatural!

A quinta seguiu normal: como eu fiquei com o carro, fui pegar o marido no trabalho, depois pegamos o filhote na escola e chegamos em casa com nenê, mochila e algumas compras de última hora para descer do carro antes de nos arrumarmos para viajar. Nessa hora, vejo um ovo de Páscoa, igualzinho ao que eu comprei para ele, meio que escondido debaixo do banco.

Percebendo que minha localização poderia estragar sua surpresa, em tom nervoso, meu marido pede para eu ir chamar o elevador que ele pega o que estiver no carro. Claro que fingi não ter visto o ovo. Com ar de desentendida, fui chamar o elevador com um sorriso secreto, contente pela surpresa que me aguardava e orgulhosa de não ter demonstrado que a havia visto.

Tinha um sentimento de satisfação naquela brincadeira de esconde-esconde. Da mesma forma que eu tinha procurado o ovo mais gostoso e mais bonito para presenteá-lo, e planejado fazer surpresa, escondendo o chocolate, ele também havia feito isso. E eu não ia estragar a surpresa dele. Isso era uma questão de respeito, de carinho, deixá-lo seguir seu plano exatamente como ele queria era uma prova de amor.

Então fomos viajar. Passamos os três dias na praia e voltamos no fim da tarde do domingo.

Depois de trânsito lento, chuva, paradas para trocas de fralda e papinhas, chegamos em casa à noite. Depois de banho no pequeno, arrumação de berço, mamadeira, desarrumação de malas, finalmente ele vai para o quarto por um minuto, tempo de eu correr para a esquecida gaveta da geladeira para pegar o ovo que comprei e presentá-lo.

Então, eis minha surpresa: aquele ovo que vi no carro, igualzinho ao que eu havia comprado, estava deitadinho ali na gaveta também. Os dois ovos, iguaizinhos, do mesmo tamanho, com a mesma embalagem.

Não pude conter o sorriso. Mais do que procurar o ovo perfeito, gostoso e bonito, como forma de me agradar, assim como eu fiz para ele, meu marido também já sabia o que o aguardava e também se fez de desentendido, com respeito e carinho, me deixando seguir meu plano exatamente como eu queria.

Depois de um abraço longo e silencioso, com sorrisos de cumplicidade absoluta, abrimos um dos ovos e adoçamos um pouco mais nossa vida.