Estou lendo Paixão Pagu, uma autobiografia de Patrícia Galvão, figurinha singular, importante para a história do Brasil – tanto política quanto culturalmente.
O livro, na verdade, é uma carta que ela escreveu a Geraldo Ferraz, seu último marido, seu companheiro intelectual, como é dito no livro muitas vezes. Uma carta em que ela conta tudo. Tudo que sente, tudo que pensa, tudo que quer... todas as suas angústias. Mas não vou ficar aqui fazendo o prefácio ou a crítica do livro. Acho que ele deve ser lido, estou amando cada página, mas não tenho a pretensão de comentar o livro. Minha única intenção é falar de mim. Das minhas opiniões, percepções, meus pensamentos. É isso mesmo. Eu e meu egocentrismo, que não me permite ser imparcial, nunca. Mas não me importo muito com isso.
Comecei a escrever porque, lendo o livro, vi como sou uma pessoa pequena. Mesquinha mesmo. Admirei tanto essa mulher, o jeito com que escreve, sua vontade de vida. Queria ser assim, pensar assim, sentir assim. Queria, como ela, encontrar uma causa à qual me doar completamente. Queria sua coragem, sua visão de mundo. É incrível como ela se despe para escrever sobre si. Eu queria conseguir fazer isso também. Queria conseguir me ver sem nenhuma amarra. Queria me soltar dos medos que me enfraquecem.
Vi que sou pequena por me deixar enfraquecer pelos medos que tenho. Por ter inveja de tudo que eu li. Não das histórias por que ela passou, pois muitas são tristes, muitas estão fora do meu campo de compreensão. Não do entendimento, mas da compreensão, como ela mesma disse. Mas inveja do jeito que ela viu tudo e de tudo que ela viu.
Mas o mais interessante é que vi que sou pequena por muitas vezes pensar as mesmas coisas que ela, e porque isso aconteceu principalmente nos momentos em que ela mais se criticava. E o que eu via ali de parecido comigo não era somente a crítica que ela fazia, que eu também faria, mas também o pensamento que ela estava criticando.
E não é primeira vez que isso acontece. Livros e filmes mexem muito comigo. São meus divãs, a forma que tenho de me entender, entender as pessoas, mudar minha visão de mundo. Letras de músicas também têm este poder comigo. Tudo que é palavra é assim. Livros, obviamente, mais que filmes, porque exigem mais imaginação e, claro, mais tempo, o que faz a gente ficar ruminando aquilo tudo que está sendo lido e absorvido.
Achei interessante me ver mesquinha assim. Claro que não é tão agradável quanto quando eu leio um livro que me abre a mente para coisas novas, ou quando um outro me aproxima de algo que eu gosto. Ver coisas que a gente acha feio em nós mesmos é um pouco dolorido, frustrante. Mas a melancolia às vezes é boa.
Quer dizer, eu gosto de coisas assim. Acho até que rendo mais quando estou meio triste, melancólica, porque acho que presto mais atenção aos meus pensamentos, dou mais força a eles. Ou talvez pensando assim eu esteja sendo pretensiosa. Talvez o que acontece seja o oposto, e eu dê mais força a outros pensamentos que não os meus, sem me importar muito se isso fere meu ego enorme. Não sei.
Só sei que muitas vezes me encontro ao ficar melancólica, ao ver meus defeitos (ou, pelo menos, aquilo que considero defeito em mim) assim estampados na minha cara. Alguns defeitos que considero até qualidades. Sinto isso ao ler Paixão Pagu, e sinto isso muitas vezes ao ler Fernando Pessoa.
Não sei se minha fraqueza me permite ir além da dor para alcançar o que desejo, sei que não sou nada. Mas também me vejo em mim todos os sonhos do mundo, o desejo de tornar minha vida grande, de toda a humanidade, “ainda que para isso tenha de a perder como minha”.
15 de dezembro
- dia do esperanto
- dia do jardineiro
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