17.12.07

Histórias da Vida

Então ela vai casar. Mesmo depois de tudo que ele fez, de tudo que ela sofreu, de tudo que ela teve que ouvir, saber... ela vai casar, sim.

Ele sempre foi o homem da vida dela. Os outros não chegaram nem perto. Só a faziam lembrar de como ele era bom. Os melhores eram aqueles por quem, por alguns instantes, ela realmente se apaixonou, mas logo percebeu que o que a fez se apaixonar era algum trejeito, algum comentário típico dele, o primeiro, o único, sempre ele.

Mas aqueles eram outros tempos. Eles eram adolescentes. Os dois. Ela morrendo de medo das conseqüências do que ele queria fazer. Ele morrendo de vontade de fazer o que ela ia gostar. Ela tentada, mas resistente. Ele tentando, irresistível.

E por causa disso ela quase consegue entender as razões daquelas que não resistiram. Chegou uma hora que ela mesma não resistiu. Mas não foi suficiente pra ele. Não para todo aquele tesão adolescente interminável, pras loucuras que passavam na cabeça daquele garoto.

Claro que doeu. Doeu pra caramba e ainda dói hoje. E quando ela pensa no que aconteceu, no fundo, no fundo, mesmo que ela não admita pra ninguém, mesmo que ela queira negar pra ela mesma, dá um frio na barriga e um medo de que aquilo aconteça de novo. Porque naquela época foi foda, mas eles eram mais novos, e parece que conforme o tempo vai passando a gente vai perdendo a resiliência pra essas coisas, o baque é maior e a gente demora mais pra se recuperar. E ela sabe disso. Ela sente isso e morre de medo.

E quando ela pensa nisso tudo e percebe que vai começar a sentir medo, então ela se convence de que tudo que aconteceu foi só porque ele ainda era adolescente. Foi coisa de criança, impulsos incentivados por amizades erradas. E, convencida disso, ela passa a pensar em como é bom tê-lo de volta. Como ela cabe naquele abraço. Como ela, só ela foi inesquecível a ponto de fazê-lo voltar. Como ela venceu todos aqueles que apostaram contra, todas aquelas que foram argumentos para os que apostaram contra. Ela sabia que era ela. Ela sabia que ninguém mais poderia fazê-lo feliz. Ninguém mais arrancaria da boca dele um pedido de casamento. Ninguém mais do que ela, que passou por tudo aquilo, que foi o alvo principal, que foi a mais machucada, merecia esse final feliz, ao lado dele.

E agora, mais do que convencida de que o mundo dá voltas, de que Deus escreve certo por linhas tortas, ela sorri e começa a pensar no vestido branco.

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