11.12.08

Química

Eu olhei para o céu e vi centenas, milhares de pára-quedas de celofane azul. Imensos, abertos. Mas eles não caíam, apenas flutuavam suavemente.

E conforme eu me perdia nessa dança azul, um gosto adocicado tomou conta da minha boca. Um gosto que me fez fechar os olhos para que eu pudesse sentir melhor e ser completamente só daquele gosto. Pertencer a ele. Um gosto delicadamente doce que começou a pinicar a sola do meu pé levemente, e que puxava os cantos da minha boca em direção às orelhas.

Mesmo que eu não quisesse, meus lábios se esticavam até as bochechas. Mas o caso é que não tinha querer ou não querer. A pinicação no pé começava a virar cosquinha (diminutivo carinhoso de cócegas, para quem não sabe) e o estômago gelava e se contraía, me fazendo rir incontrolavelmente.

Depois de ficar quase sem ar, aos poucos meu coração foi se acalmando, a respiração desacelerando. Minha pele estava gelada e o ar em volta de mim ficou quente, tão quente que senti um cheiro seco, vermelho, me sufocando. E aquele ar quente e vermelho era denso, tão denso que eu não tinha força de puxar para dentro do pulmão.

Os olhos foram escurecendo, escurecendo, e um medo angustiante deixou vazio tudo que tinha dentro de mim, como se minha alma estivesse aos poucos se desgrudando do meu corpo. E tudo ficou preto e gelado tão rápido que minha cabeça rodou, rodou, até que vi uns pontinhos brilhando no meio da escuridão.

Então percebi que havia anoitecido e as estrelas olhavam para mim. Todas elas observavam cada movimento meu, por menor que fosse.

O único movimento que fiz foi abrir os braços olhando para elas, para sentir aquele abraço protetor de veludo preto brilhante que me fazia a pessoa mais livre do mundo. Livre para ser eu mesma, para sempre.

Não, não é vício, é só a química. A química que existe entre nós.

Um comentário:

redatora Mireille Almeida disse...

Oi, Marcela
só agora vi seu recado no meu blog. To na correria total. Poxa, fiquei muito, muito feliz com seus comentários. Agora estou aqui no seu blog, descobrindo textos leves q traduzem mais do que os olhos vêem...simplesmente você consegue buscar um sentimento lá do fundo.
Adorei!!!!