7.10.11

Aftertaste

Amargo. Aquele amargo com um gostinho de ferro por causa do soco na boca, que me fez engolir um pouco de sangue enquanto a bile subia, no sentido contrário, provocando náusea.

Atordoada, minha única reação foi tentar segurar o vômito e o choro, ao mesmo tempo.

Apesar dos golpes suaves esporadicamente, eu não estava preparada para aquilo. Eu sei, a culpa do despreparo era toda minha, da minha cegueira opcional, da minha busca incansável de tapar o sol com a peneira, como dizem.

Aliás, a essa altura, a culpa já é minha amiga íntima. Ela e as dúvidas. As únicas que ficaram do meu lado depois da surra. Ficaram o tempo todo ali comigo, conversando entre elas, porque eu não tinha nem ânimo, nem força para falar nada.

- Será que não foi você mesma que provocou tudo isso?

- Você sabe como as coisas são, como as pessoas são, e mesmo assim continuou agindo da mesma maneira. Você devia ter pensado antes.

- Como você não percebeu que isso ia acontecer? Estava tudo na sua cara!

- Você é ingênua demais. Acha que todo mundo é bom. Você se esconde atrás do argumento de que isso é sinal de bondade, mas na verdade é sinal de burrice.

E elas não paravam de me metralhar com comentários que faziam cada vez mais sentido na minha cabeça, me deixando mais atordoada e com menos força.

Eu já estava ajoelhada, implorando em silêncio para que alguma boa alma me pegasse pela mão e me mostrasse que aquilo não tinha sido uma surra, e sim um abraço muito apertado, que eu é que tinha confundido tudo. Mas as pessoas passavam por mim e não me notavam ali no chão. As poucas que vinham até mim disfarçavam sua curiosidade mórbida com a oferta de um ombro.

Confesso que, mesmo sabendo disso, me vali dos ombros para tentar encontrar apoio, mas quando as palavras são vazias elas não podem suportar nada. Então o chão voltava a ser o meu lugar.

O gosto amargo da traição, o azedume da revolta comigo mesma, a cabeça erguida, não por satisfação, mas para tentar em vão que as lágrimas não escorram mostrando ao mundo minha vergonha. É isso que sobra quando a admiração se transforma em decepção.

Nenhum comentário: