13.4.09

Nada como um dia de chuva

Adoro dia de chuva. Aquele cinza que me permite entrar em mim mesma e tomar conhecimento de toda minha dor e ao mesmo tempo de toda a minha beleza, silencia o resto do mundo e torna mais verdadeiros meus sentimentos.

Não preciso sair na chuva e abrir meus braços para sentir as gotas lavando a minha alma. Só olhar pela janela já é suficiente para me fazer rever momentos e sentir novamente, com a mesma intensidade, ou talvez até mais, o mesmo frio na barriga, o mesmo ar gelado inflando o peito. E então marejar meus olhos e mudar o contorno de minha boca num leve sorriso, quase imperceptível, porque em dia de chuva até o que é triste faz sorrir. Combina.

Da janela vejo o chão molhado formar um espelho gigante, com seus chicletes grudados, uns já pretos de tão antigos, que, como minhas culpas, nunca vão sair dali, e várias folhas pisadas como os sonhos que atropelei.

O som das gotas no vidro me hipnotiza e me faz querer ficar ali para sempre, olhando o dia cada vez mais cinza, sem saber se é porque anoitece ou se é a chuva me dizendo que não tem pressa.

Olhar a água fina tomando conta de todo espaço que não é cidade me dá frio. Mais que aquecida, acabo me sentindo amada pela manta que abraço, mas não com aquele amor que conforta. É um amor daquele que joga na minha cara tudo que eu já fiz, não fiz, já fui e nunca vou ser, para depois poder cobrar a felicidade. E a chuva açoitando a janela é a trilha de toda essa cobrança.

É por causa dessa tristeza que eu adoro dia de chuva, porque é nessa tristeza que encontro comigo mesma e me renovo. Porque essa tristeza fria que pinga do céu me tira da alegria letárgica do dia-a-dia, aquela que a gente nem percebe e que anestesia, para deixar tudo mais intenso.

No cinza dos dias de chuva, as outras cores têm mais força e os sentimentos, mais sinceridade. No frio dos dias de chuva, minhas lágrimas são mais quentes, meus abraços, mais fortes. Nos dias de chuva, eu me entrego à minha solidão e me basto.

2 comentários:

Tuco disse...

Uau! Fazia um bom tempo que eu não passava por aqui. Aliás, nem sei se eu já tinha visto este blog; eu me lembro de um, mas acho que não era esse. Enfim...excelentes textos. Poéticos textos. Iluminados textos. Prossiga com este ofício, por gentileza. Abraço. Saudade de vocês.

...mari... disse...

Nunca mais vou ter um dia de chuva sem que eu me lembre dos trechos mais marcantes desse texto. Aliás, quando terminei de lê-lo, desejei que estivesse chovendo pra eu poder experimentar conscientemente cada palavra...cada emoção!

Tive a felicidade de conhecer o seu blog...e em poucos textos virei fã!

...voltarei sempre!..rs

Abraços!