9.4.12
O que é o amor
Quinta-feira, véspera de Sexta-feira Santa. Como íamos viajar à noite, fui ao supermercado comprar itens obrigatórios para a mala e que nunca temos em casa, com protetor solar e fralda de piscina para o filhote. E o ovo de Páscoa do maridão, claro.
Estacionamento lotado, seção de ovos de Páscoa mais lotada ainda! Um empurra-empurra de clientes de braços levantados tentando ver se o chocolate escolhido estava realmente inteiro, misturados com funcionários tentando distribuir todo estoque de ovos do mundo em ritmo frenético, todos cercados de carrinhos e crianças por todos os lados. E eu ali no meio, procurando um ovo gostoso, com embalagem bonita, para presentear meu marido. Ele merece!
Escolhido o doce, vem a fila quilométrica a ser enfrentada. Enfrentada a fila, o sol escaldante, que nos deixa animados para a praia do fim de semana, desafia o chocolate a permanecer na forma de ovo dentro do carro sem ar-condicionado.
Antes que alguém chegasse em casa, abri a geladeira e escondi o ovo na gaveta da parte de baixo da geladeira, porque aqui em casa ela é relegada ao mais profundo esquecimento, e também porque ali o chocolate não derreteria até domingo à noite, quando estaríamos de volta e eu surpreenderia meu marido com seu presente.
Tudo planejado, era só agir naturalmente para que ele não desconfiasse de nada - isso pode até parecer bobo para a humanidade, mas, para mim, não entregar minhas próprias surpresas é um esforço sobrenatural!
A quinta seguiu normal: como eu fiquei com o carro, fui pegar o marido no trabalho, depois pegamos o filhote na escola e chegamos em casa com nenê, mochila e algumas compras de última hora para descer do carro antes de nos arrumarmos para viajar. Nessa hora, vejo um ovo de Páscoa, igualzinho ao que eu comprei para ele, meio que escondido debaixo do banco.
Percebendo que minha localização poderia estragar sua surpresa, em tom nervoso, meu marido pede para eu ir chamar o elevador que ele pega o que estiver no carro. Claro que fingi não ter visto o ovo. Com ar de desentendida, fui chamar o elevador com um sorriso secreto, contente pela surpresa que me aguardava e orgulhosa de não ter demonstrado que a havia visto.
Tinha um sentimento de satisfação naquela brincadeira de esconde-esconde. Da mesma forma que eu tinha procurado o ovo mais gostoso e mais bonito para presenteá-lo, e planejado fazer surpresa, escondendo o chocolate, ele também havia feito isso. E eu não ia estragar a surpresa dele. Isso era uma questão de respeito, de carinho, deixá-lo seguir seu plano exatamente como ele queria era uma prova de amor.
Então fomos viajar. Passamos os três dias na praia e voltamos no fim da tarde do domingo.
Depois de trânsito lento, chuva, paradas para trocas de fralda e papinhas, chegamos em casa à noite. Depois de banho no pequeno, arrumação de berço, mamadeira, desarrumação de malas, finalmente ele vai para o quarto por um minuto, tempo de eu correr para a esquecida gaveta da geladeira para pegar o ovo que comprei e presentá-lo.
Então, eis minha surpresa: aquele ovo que vi no carro, igualzinho ao que eu havia comprado, estava deitadinho ali na gaveta também. Os dois ovos, iguaizinhos, do mesmo tamanho, com a mesma embalagem.
Não pude conter o sorriso. Mais do que procurar o ovo perfeito, gostoso e bonito, como forma de me agradar, assim como eu fiz para ele, meu marido também já sabia o que o aguardava e também se fez de desentendido, com respeito e carinho, me deixando seguir meu plano exatamente como eu queria.
Depois de um abraço longo e silencioso, com sorrisos de cumplicidade absoluta, abrimos um dos ovos e adoçamos um pouco mais nossa vida.
16.2.12
Meu Réveillon
Como eu sempre digo, aniversário é um réveillon particular. É quando um ano da sua vida se encerra e outro começa com a mesma expectativa de que tudo vai dar certo, com direito a lista de intenções e até promessas, com toda aquela euforia que só a passagem do 31 de dezembro ao primeiro de janeiro traz para aquele lugar entre o coração e o estômago. A diferença, claro, é que quando fazemos aniversário o resto do mundo não está anestesiado por essa mesma sensação do réveillon, e por isso a gente fica diferente, acorda diferente, o olho brilha diferente. O dia é só nosso. E é perfeito por isso.
Amanhã é o meu réveillon particular. E como um bom réveillon que se preze, ele não dá a menor bola para qualquer coisa que não seja felicidade, alegria, esperança e comemoração, porque, graças a Deus, eu tenho muito o que comemorar!
Tenho que comemorar um marido maravilhoso que é muito mais que um marido. É meu cúmplice, meu confidente, meu porto seguro e a razão para eu querer ser sempre uma pessoa melhor. E também o melhor pai que meu filho poderia ter.
Sem dúvida, meu filho é o motivo mais fofo da minha comemoração. Sua carinha linda, suas perninhas gordinhas começando a andar, a risada mais gostosa que já ouvi em toda a minha vida... E olhar para ele e pensar “fui eu que fiz” é simplesmente mágico.
Meus pais são mais que motivo de comemoração. São motivo de orgulho, de admiração. Meus guias, os primeiros autores do livro da minha vida. Quando eu falo de ser uma pessoa melhor, quero dizer chegar mais perto do que eles são.
Minha irmã que é muito mais que irmã de sangue. É irmã de alma. Minha única igual no mundo, para quem contar para absolutamente tudo e ter a certeza de ser compreendida, afinal, só nós duas compartilhamos a mesma educação, a mesma casa, os mesmos pais, o mesmo cachorro, as mesmas brigas, as mesmas lembranças.
Tenho que comemorar meu amigos, que são os melhores do mundo, que entendem e perdoam minha ausência e que me fazem sentir que minha presença é especial.
E todas as conquistas que realizei no ano dos meus 30 anos também merecem um brinde. Um brinde à minha voz, que se manteve firme aos meus princípios. Um brinde à minha mente que, ao contrário do meu corpo, voltou a se exercitar e anda estudando bastante. Um brinde aos quilos que deixei para trás e aos hábitos a quem dei boas-vindas. À faxina, que havia muito eu precisava fazer, na casa, nas caixas, nos e-mails e no coração.
Também preciso brindar minha imperfeição, porque ela significa que o caminho ainda não acabou. Minhas falhas e frustrações, porque eles garantiram aprendizado. Comemorar uma lista imensa de coisas que ainda não consegui fazer, porque isso significa que meus sonhos ainda estão aí, esperando para se realizar, afinal, que graça teria não ter mais nada para correr atrás.
Preciso comemorar as deliciosas escapadas do regime, mesmo quando elas me levaram à gula. Toda a preguiça que eu aproveitei bem. E toda a minha dedicação às coisas me trazem orgulho. E a luxúria à que me entreguei. E todos os pecados que eu tive a oportunidade de cometer sem culpa, porque agora não é hora de confessar, é hora de comemorar.
Amanhã é dia de ano novo pra mim. 10, 9, 8, 7...
Amanhã é o meu réveillon particular. E como um bom réveillon que se preze, ele não dá a menor bola para qualquer coisa que não seja felicidade, alegria, esperança e comemoração, porque, graças a Deus, eu tenho muito o que comemorar!
Tenho que comemorar um marido maravilhoso que é muito mais que um marido. É meu cúmplice, meu confidente, meu porto seguro e a razão para eu querer ser sempre uma pessoa melhor. E também o melhor pai que meu filho poderia ter.
Sem dúvida, meu filho é o motivo mais fofo da minha comemoração. Sua carinha linda, suas perninhas gordinhas começando a andar, a risada mais gostosa que já ouvi em toda a minha vida... E olhar para ele e pensar “fui eu que fiz” é simplesmente mágico.
Meus pais são mais que motivo de comemoração. São motivo de orgulho, de admiração. Meus guias, os primeiros autores do livro da minha vida. Quando eu falo de ser uma pessoa melhor, quero dizer chegar mais perto do que eles são.
Minha irmã que é muito mais que irmã de sangue. É irmã de alma. Minha única igual no mundo, para quem contar para absolutamente tudo e ter a certeza de ser compreendida, afinal, só nós duas compartilhamos a mesma educação, a mesma casa, os mesmos pais, o mesmo cachorro, as mesmas brigas, as mesmas lembranças.
Tenho que comemorar meu amigos, que são os melhores do mundo, que entendem e perdoam minha ausência e que me fazem sentir que minha presença é especial.
E todas as conquistas que realizei no ano dos meus 30 anos também merecem um brinde. Um brinde à minha voz, que se manteve firme aos meus princípios. Um brinde à minha mente que, ao contrário do meu corpo, voltou a se exercitar e anda estudando bastante. Um brinde aos quilos que deixei para trás e aos hábitos a quem dei boas-vindas. À faxina, que havia muito eu precisava fazer, na casa, nas caixas, nos e-mails e no coração.
Também preciso brindar minha imperfeição, porque ela significa que o caminho ainda não acabou. Minhas falhas e frustrações, porque eles garantiram aprendizado. Comemorar uma lista imensa de coisas que ainda não consegui fazer, porque isso significa que meus sonhos ainda estão aí, esperando para se realizar, afinal, que graça teria não ter mais nada para correr atrás.
Preciso comemorar as deliciosas escapadas do regime, mesmo quando elas me levaram à gula. Toda a preguiça que eu aproveitei bem. E toda a minha dedicação às coisas me trazem orgulho. E a luxúria à que me entreguei. E todos os pecados que eu tive a oportunidade de cometer sem culpa, porque agora não é hora de confessar, é hora de comemorar.
Amanhã é dia de ano novo pra mim. 10, 9, 8, 7...
6.2.12
Sobre imagens e palavras
Uma imagem vale mais que mil palavras. E uma palavra, quanto vale? Eu respondo. Uma palavra, meu amigo, tem o mesmo valor do seu cérebro, da sua imaginação, do seu repertório, da sua bagagem.
Diante de uma imagem, é natural que você pense em algumas palavras, mesmo que inconscientemente, porque é assim que nós pensamos. Uma imagem pode levar nossa mente a muito mais que mil palavras, sem dúvida.
Uma foto de um parto, por exemplo, leva a mente de cada um, imediatamente, os mais diversos tipos de palavras, de “milagre” a “nojento”, dependendo de quem você é, de como encara as coisas.
Uma palavra também pode levar nossa mente a milhares de imagens. Se eu disser “elefante” para você, que imagem vem à sua mente? Um animal imenso numa savana na África? Ou o Golias do Meu Amigãozão? Talvez aquele seu amigo gordinho que você não deixa em paz? Ou aquele passeio no zoológico que você fez com a escola quando tinha 5 anos, em que você passou o dia todo de mãos dadas com a menina mais bonita da escola porque ela era a sua namorada? Ou talvez você não pense em imagem nenhuma, mas comece a cantar imediatamente “um elefante incomoda muito a gente...”
Uma palavra é muito mais que semântica e definições de dicionários. Palavras têm cargas emocionais muito fortes, carregam com suas letras lembranças, pessoas, músicas, sentimentos, sabores, cheiros e imagens.
Claro que uma imagem também pode levar você a algum lugar especial do seu coração, que faça você lembrar de alguém, sentir um cheiro, juntar água na boca, ter vontade de chorar. Mas o é fato que você vai usar palavras para aquela imagem, simplesmente porque o ser humano precisar nomear aquilo que vê, que sente. E só pode fazer isso com palavras.
Então, me faz um favor? Pare de comparar palavras com imagens e seus valores, porque o que tem valor de verdade, o que importa mesmo, é que minhas palavras podem dar qualquer significado às suas imagens, assim como suas imagens podem mudar o sentido das minhas palavras. E vice-versa.
Diante de uma imagem, é natural que você pense em algumas palavras, mesmo que inconscientemente, porque é assim que nós pensamos. Uma imagem pode levar nossa mente a muito mais que mil palavras, sem dúvida.
Uma foto de um parto, por exemplo, leva a mente de cada um, imediatamente, os mais diversos tipos de palavras, de “milagre” a “nojento”, dependendo de quem você é, de como encara as coisas.
Uma palavra também pode levar nossa mente a milhares de imagens. Se eu disser “elefante” para você, que imagem vem à sua mente? Um animal imenso numa savana na África? Ou o Golias do Meu Amigãozão? Talvez aquele seu amigo gordinho que você não deixa em paz? Ou aquele passeio no zoológico que você fez com a escola quando tinha 5 anos, em que você passou o dia todo de mãos dadas com a menina mais bonita da escola porque ela era a sua namorada? Ou talvez você não pense em imagem nenhuma, mas comece a cantar imediatamente “um elefante incomoda muito a gente...”
Uma palavra é muito mais que semântica e definições de dicionários. Palavras têm cargas emocionais muito fortes, carregam com suas letras lembranças, pessoas, músicas, sentimentos, sabores, cheiros e imagens.
Claro que uma imagem também pode levar você a algum lugar especial do seu coração, que faça você lembrar de alguém, sentir um cheiro, juntar água na boca, ter vontade de chorar. Mas o é fato que você vai usar palavras para aquela imagem, simplesmente porque o ser humano precisar nomear aquilo que vê, que sente. E só pode fazer isso com palavras.
Então, me faz um favor? Pare de comparar palavras com imagens e seus valores, porque o que tem valor de verdade, o que importa mesmo, é que minhas palavras podem dar qualquer significado às suas imagens, assim como suas imagens podem mudar o sentido das minhas palavras. E vice-versa.
27.1.12
Obrigada
Obrigada por tudo.
Por estar sempre comigo, saber de tudo que acontece em minha vida e não me julgar. Obrigada, principalmente, pelo seu silêncio quando confesso meus pensamentos mais obscuros.
Obrigada por me ajudar a por tudo pra fora, a organizar meus pensamentos e por mostrar para mim a real dimensão dos meus problemas.
Você tem sido perfeito. Sem você, eu não teria conseguido nem colocar minhas contas em dia, imagina então minha vida! Aliás, eu não consigo pensar na minha vida sem você.
Eu sei que às vezes abuso da sua boa vontade, e que você pode achar que eu só te uso e depois jogo fora. Não pense assim. Tudo que nós vivemos juntos vai ficar para sempre na minha memória. Algumas coisas eu até queria esquecer, mas, além de meu confidente, você é uma espécie de arquivo... depois que exponho para você qualquer coisa, ela parece que fica gravada em mim.
Obrigada por aguentar minhas histórias repetidamente, incansavelmente. Again, and again, and again, and again. E por suportar algumas gafes terríveis, eu confesso, e me dar a oportunidade de apagar tudo e começar de novo. E por permanecer ali, totalmente à minha disposição, enquanto eu penso no que falar, mesmo que isso demore o dia todo e a gente fique só olhando um para a cara do outro. E pelos momentos de mau humor. Sei que às vezes passo dos limites e peso a mão. E você continua ali comigo.
Mas, fala a verdade, eu também tenho meus bons momentos. Tem hora que eu sinto até um certo orgulho de algumas coisas que divido com você. Claro, você é fundamental nisso, juntando informações para me ajudar, me lembrando de algumas coisas, e me dando espaço total para eu ser quem eu quiser. Nessas horas... ah! A gente forma uma bela dupla, hein!
Ai, papel, o que seria de mim sem você?
PS: esse agradecimento também é válido para o “papel do word” em que eu digito!
Por estar sempre comigo, saber de tudo que acontece em minha vida e não me julgar. Obrigada, principalmente, pelo seu silêncio quando confesso meus pensamentos mais obscuros.
Obrigada por me ajudar a por tudo pra fora, a organizar meus pensamentos e por mostrar para mim a real dimensão dos meus problemas.
Você tem sido perfeito. Sem você, eu não teria conseguido nem colocar minhas contas em dia, imagina então minha vida! Aliás, eu não consigo pensar na minha vida sem você.
Eu sei que às vezes abuso da sua boa vontade, e que você pode achar que eu só te uso e depois jogo fora. Não pense assim. Tudo que nós vivemos juntos vai ficar para sempre na minha memória. Algumas coisas eu até queria esquecer, mas, além de meu confidente, você é uma espécie de arquivo... depois que exponho para você qualquer coisa, ela parece que fica gravada em mim.
Obrigada por aguentar minhas histórias repetidamente, incansavelmente. Again, and again, and again, and again. E por suportar algumas gafes terríveis, eu confesso, e me dar a oportunidade de apagar tudo e começar de novo. E por permanecer ali, totalmente à minha disposição, enquanto eu penso no que falar, mesmo que isso demore o dia todo e a gente fique só olhando um para a cara do outro. E pelos momentos de mau humor. Sei que às vezes passo dos limites e peso a mão. E você continua ali comigo.
Mas, fala a verdade, eu também tenho meus bons momentos. Tem hora que eu sinto até um certo orgulho de algumas coisas que divido com você. Claro, você é fundamental nisso, juntando informações para me ajudar, me lembrando de algumas coisas, e me dando espaço total para eu ser quem eu quiser. Nessas horas... ah! A gente forma uma bela dupla, hein!
Ai, papel, o que seria de mim sem você?
PS: esse agradecimento também é válido para o “papel do word” em que eu digito!
26.1.12
Sobre escolhas e prioridades
A vida é feita de escolhas. Talvez esse seja o maior clichê da face da Terra. Mas, pelo que vejo, essa frase tem sido muito mais falada do que entendida por aí.
Casar ou comprar uma bicicleta? Fazer Letras ou Medicina? Comprar um carro ou viajar pelo mundo? Alguns momentos, normalmente aqueles em que tomamos uma decisão que vai mudar nossa vida, deixam clara essa questão das escolhas. O fato é que não é só nesses grandes momentos que fazemos nossas escolhas. Aliás, as grandes escolhas de verdade são aquelas do dia a dia, aquelas que não envolvem sonhos - porque, no fundo, esses tais momentos que deixam clara essa questão da escolha, têm mais a ver com realização de sonhos, são resultado de tudo que pensamos e desejamos ao longo da vida.
As escolhas de verdade, aquelas que mostram quem você é e, paradoxalmente, definem quem vocês é, são aquelas que fazemos sem ter tempo de sonhar, aquelas que nunca pensamos que teríamos que fazer. E exatamente pela natureza imprevisível destas questões é que elas revelam e definem quem somos, porque a única forma de fazer essas escolhas é seguir nosso instinto, que faz valer nossas prioridades.
Não existe certo ou errado. Existe você, suas prioridades e suas escolhas. Sim, você é responsável por essas escolhas. Mesmo quando decide não escolher e deixar que a situação se resolva sozinha, você está escolhendo não tomar nenhuma atitude. E, normalmente, quando é assim, você até já sabe onde tudo vai dar, mas a verdade é que você não quer assumir que escolheu efetivamente aquele caminho ou aquele resultado, e sempre vai ter a muleta do “eu não pude fazer nada”, “eu não tive escolha”.
Sim, você teve escolha. Mas talvez você ache que sua prioridade não seja assim tão louvável. Não é culpa sua. Talvez as pessoas, a sociedade, o mundo, ou você mesmo, esperem coisas maiores de você, e se revelar extremamente humano poda causar algum desconforto, vergonha, ou medo de ser julgado.
Talvez suas prioridades só sejam um pouco diferentes das que as pessoas costumam ter. Ou talvez sejam as mesmas que as pessoas preferem esconder que também têm. Talvez seu emprego seja mais importante que sua saúde, seus amigos sejam mais importantes que seu chefe, o amor da sua vida seja mais importante que sua família, talvez sua consciência importe mais que sua conta bancária, talvez sua imagem importe mais que seu saldo. Ou vice-versa. Quem sabe?
A vida, a história, as experiências e expectativas são suas. Você escolheu. Infle o peito, sim, e conte para quem quiser ouvir aquelas escolhas que fizeram você sentir orgulho de si mesmo. Ou junte todas e escreva um livro. Transforme essas escolhas em exemplos, faça com que os velhos admirem e os jovens queiram ser como você.
E quanto àquelas escolhas que você fez e que não são exatamente motivo de orgulho, quanto àquelas que você deixou de fazer por medo, vergonha ou preguiça de pensar, e ainda quanto àquelas escolhas que você deixou que outra pessoa fizesse por você, através das prioridades dela... assuma que todas elas foram, sim, escolhas suas. Não precisa ser para quem quiser ouvir, nem num livro. Mas tenha consciência, por mais difícil e doloroso e vergonhoso que possa ser, de que foi você, sim, o responsável por elas. E tente dormir em paz com isso.
Casar ou comprar uma bicicleta? Fazer Letras ou Medicina? Comprar um carro ou viajar pelo mundo? Alguns momentos, normalmente aqueles em que tomamos uma decisão que vai mudar nossa vida, deixam clara essa questão das escolhas. O fato é que não é só nesses grandes momentos que fazemos nossas escolhas. Aliás, as grandes escolhas de verdade são aquelas do dia a dia, aquelas que não envolvem sonhos - porque, no fundo, esses tais momentos que deixam clara essa questão da escolha, têm mais a ver com realização de sonhos, são resultado de tudo que pensamos e desejamos ao longo da vida.
As escolhas de verdade, aquelas que mostram quem você é e, paradoxalmente, definem quem vocês é, são aquelas que fazemos sem ter tempo de sonhar, aquelas que nunca pensamos que teríamos que fazer. E exatamente pela natureza imprevisível destas questões é que elas revelam e definem quem somos, porque a única forma de fazer essas escolhas é seguir nosso instinto, que faz valer nossas prioridades.
Não existe certo ou errado. Existe você, suas prioridades e suas escolhas. Sim, você é responsável por essas escolhas. Mesmo quando decide não escolher e deixar que a situação se resolva sozinha, você está escolhendo não tomar nenhuma atitude. E, normalmente, quando é assim, você até já sabe onde tudo vai dar, mas a verdade é que você não quer assumir que escolheu efetivamente aquele caminho ou aquele resultado, e sempre vai ter a muleta do “eu não pude fazer nada”, “eu não tive escolha”.
Sim, você teve escolha. Mas talvez você ache que sua prioridade não seja assim tão louvável. Não é culpa sua. Talvez as pessoas, a sociedade, o mundo, ou você mesmo, esperem coisas maiores de você, e se revelar extremamente humano poda causar algum desconforto, vergonha, ou medo de ser julgado.
Talvez suas prioridades só sejam um pouco diferentes das que as pessoas costumam ter. Ou talvez sejam as mesmas que as pessoas preferem esconder que também têm. Talvez seu emprego seja mais importante que sua saúde, seus amigos sejam mais importantes que seu chefe, o amor da sua vida seja mais importante que sua família, talvez sua consciência importe mais que sua conta bancária, talvez sua imagem importe mais que seu saldo. Ou vice-versa. Quem sabe?
A vida, a história, as experiências e expectativas são suas. Você escolheu. Infle o peito, sim, e conte para quem quiser ouvir aquelas escolhas que fizeram você sentir orgulho de si mesmo. Ou junte todas e escreva um livro. Transforme essas escolhas em exemplos, faça com que os velhos admirem e os jovens queiram ser como você.
E quanto àquelas escolhas que você fez e que não são exatamente motivo de orgulho, quanto àquelas que você deixou de fazer por medo, vergonha ou preguiça de pensar, e ainda quanto àquelas escolhas que você deixou que outra pessoa fizesse por você, através das prioridades dela... assuma que todas elas foram, sim, escolhas suas. Não precisa ser para quem quiser ouvir, nem num livro. Mas tenha consciência, por mais difícil e doloroso e vergonhoso que possa ser, de que foi você, sim, o responsável por elas. E tente dormir em paz com isso.
23.1.12
Entrelinhas
Enquanto ela falava, eu ficava ali pensando se ela sabia que eu sabia que era tudo mentira.
Não que eu não estivesse ouvindo. Eu estava. Cada palavra. E usando cada palavra para tentar desvendar esse mistério: será que ela sabia?
Eu sabia que tudo estava para terminar, nossa relação já estava desgastada. Eu já estava cansado de ceder e ela ainda não estava pronta para começar. Mas a questão não era o que eu sabia. Para mim tudo estava claro e, mesmo com o fim, tranquilo. Só essa curiosidade que ficava ali cutucando meu cérebro enquanto ela sorria um sorriso de satisfação.
Será que ela sabia que nós dois estávamos ali mentindo um para o outro? Não que fosse preciso, tudo já tinha terminado, não tinha mais volta. Se um dos dois quisesse, aquela era a hora de falar tudo que estava engasgado, de lavar roupa suja, de jogar na cara. Mas não foi assim. E eu podia até falar que era por respeito a tudo que a gente viveu junto, afinal, foram anos, mas o que existia entre a gente, nos últimos tempos, era pura aparência. Um suportava o outro enquanto ninguém achava um motivo minimamente justificável para por fim àquilo tudo.
Enquanto nenhum dos dois encontrava uma razão, ou não perdia a razão e terminava tudo, como os dois queriam, o que eles tinham se resumia a uma convivência tão pacífica quanto um acordo de cavalheiros do velho oeste, mas funcionava. Cada um fazia o que tinha que fazer e todo mundo em volta achava que estava tudo bem. Simples assim. E isso não é exatamente o que se pode chamar de respeito.
Mas, enfim, ela resolveu dar o primeiro passo. Honestamente, não sei se por medo, insegurança, ou se já tinha arrumado alguém para o meu lugar - o que, modéstia à parte, acho improvável. O fato é que ela resolveu dar cabo dessa relação que já estava aos trapos.
Assim, como que numa inércia do que vinha sendo há alguns meses - talvez anos, quem sabe? - ela me disse adeus sorrindo. Ou será que não era inércia, e sim o primeiro sorriso sincero que eu recebia dela em muito tempo? Era essa a questão. Será que ela sabia que tudo aquilo era mentira? Será que ela sabia que EU sabia que era mentira?
Não que eu não estivesse ouvindo. Eu estava. Cada palavra. E usando cada palavra para tentar desvendar esse mistério: será que ela sabia?
Eu sabia que tudo estava para terminar, nossa relação já estava desgastada. Eu já estava cansado de ceder e ela ainda não estava pronta para começar. Mas a questão não era o que eu sabia. Para mim tudo estava claro e, mesmo com o fim, tranquilo. Só essa curiosidade que ficava ali cutucando meu cérebro enquanto ela sorria um sorriso de satisfação.
Será que ela sabia que nós dois estávamos ali mentindo um para o outro? Não que fosse preciso, tudo já tinha terminado, não tinha mais volta. Se um dos dois quisesse, aquela era a hora de falar tudo que estava engasgado, de lavar roupa suja, de jogar na cara. Mas não foi assim. E eu podia até falar que era por respeito a tudo que a gente viveu junto, afinal, foram anos, mas o que existia entre a gente, nos últimos tempos, era pura aparência. Um suportava o outro enquanto ninguém achava um motivo minimamente justificável para por fim àquilo tudo.
Enquanto nenhum dos dois encontrava uma razão, ou não perdia a razão e terminava tudo, como os dois queriam, o que eles tinham se resumia a uma convivência tão pacífica quanto um acordo de cavalheiros do velho oeste, mas funcionava. Cada um fazia o que tinha que fazer e todo mundo em volta achava que estava tudo bem. Simples assim. E isso não é exatamente o que se pode chamar de respeito.
Mas, enfim, ela resolveu dar o primeiro passo. Honestamente, não sei se por medo, insegurança, ou se já tinha arrumado alguém para o meu lugar - o que, modéstia à parte, acho improvável. O fato é que ela resolveu dar cabo dessa relação que já estava aos trapos.
Assim, como que numa inércia do que vinha sendo há alguns meses - talvez anos, quem sabe? - ela me disse adeus sorrindo. Ou será que não era inércia, e sim o primeiro sorriso sincero que eu recebia dela em muito tempo? Era essa a questão. Será que ela sabia que tudo aquilo era mentira? Será que ela sabia que EU sabia que era mentira?
Sei que ela andou dizendo poucas e boas por aí. Sei que colocou algumas palavras em minha boca. Sei que sua versão da história foi a mais contada e não me importei muito em mostrar a minha. O tempo se encarrega de mostrar a verdade, eu tenho paciência para esperar e não tenho medo do que pode ser revelado.
Ela sempre teve uma imagem impecável, daquela que todos querem ser quando crescer, mesmo os mais crescidos. E só com muito tempo e muito cuidado é que alguns percebem essa face que ela trabalha arduamente para esconder e, com sucesso, consegue, tenho que reconhecer. Eu, honestamente, ainda não sei dizer se esse lado obscuro tem consciência de sua existência e é assim por opção, ou se a insanidade é tão grande que ela criou um mundo paralelo a este e vive nos dois, sem saber distingui-los.
Ela sempre teve uma imagem impecável, daquela que todos querem ser quando crescer, mesmo os mais crescidos. E só com muito tempo e muito cuidado é que alguns percebem essa face que ela trabalha arduamente para esconder e, com sucesso, consegue, tenho que reconhecer. Eu, honestamente, ainda não sei dizer se esse lado obscuro tem consciência de sua existência e é assim por opção, ou se a insanidade é tão grande que ela criou um mundo paralelo a este e vive nos dois, sem saber distingui-los.
Se ela tem tanto trabalho para escolher cada palavra de cada um de seus discursos, eu só posso chegar à conclusão de que ela tem consciência, sim, desta sua faceta não tão louvável. Mas sua atuação é tão perfeita que me deixa em dúvida se é atuação realmente. Então penso que ela é assim mesmo e a única explicação plausível é a vida dupla que ela leva neste e naquele mundo imaginário que ela criou.
O fato é que, nas entrelinhas daquele sorriso final, minha pergunta vai ficar sem resposta: ela sabe que ela mesma está mentindo?
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