1.7.08

Acordo

Antes de qualquer coisa, mas depois de um beijo, ele deixa claro que não pensa em nada sério. Está solteiro e pretende continuar assim.

Com esse aviso, ele se exime de qualquer culpa sobre uma possível paixonite que ela possa desenvolver. Ele passa automaticamente a não ter responsabilidade nenhuma caso ela sofra uma semana depois, quando encontrar outra ali, onde ela estava agora. Ele garante a tranqüilidade de sua consciência caso ela ligue, chore ou mande presente.

Como se uma frase pudesse mudar tudo. Apagar cada detalhe daquela noite. Traduzir o carinho com que ele a tratou para a língua da diversão sem compromisso. Sufocar o suspiro que insiste em crescer no peito dela. Dissipar o cheiro. Afastar qualquer lembrança. Normalizar o ritmo do coração.

Como se aquele aviso fosse uma prova a favor dele contra qualquer acusação de crueldade. Um álibi. Quase uma absolvição do pecado de conquistar alguém que não se quer. Um sabonete dos bons para lavar as mãos.

Como se, naquela hora que ele falava, ela fosse parar e ponderar todos os prós e contras. Definir suas prioridades. Lembrar que ninguém muda ninguém e desistir do que ela já tinha tentado com outros sem sucesso.

Como se, continuando ali com ele, ela estivesse assinando um contrato de uma noite e nada mais. Comprometida em não sonhar com o para sempre.

Como se aquela advertência significasse a segurança de que ela cumpriria todos os acordos subentendidos.

E como se não soubessem disso tudo, com a frase interrompida bem no finalzinho, com outro beijo, eles se entregam.

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