2.7.08

Solidão

O dia foi foda. E, graças a Deus, ele não tinha mulher nenhuma pra pegar no pé quando chegasse em casa mais tarde que o habitual por ter ido tomar cerveja com os amigos do trabalho e espairecer.

A cerveja e uns cigarros eram tudo que ele precisava. E um pouco de sexo pra relaxar. O melhor é que, solteiro convicto, ele podia ter o sexo que quisesse, variar o tipo de mulher, e ainda saía mais barato que o sexo “grátis” de namoradas, como ela gostava de lembrar para provocar a inveja dos coitados que já tinham vestido o cabresto. Nada de dor de cabeça, nada de amorzinho pra lá, benzinho pra cá, ficar abraçado antes de dormir. Não. Pra relaxar é preciso um bom sexo e só. Virar para o lado e dormir.

Mas antes, a cerveja com os amigos. Conversa, reclamações, sinópses do futebol, grandes idéias, a secretária, aventuras sexuais alucinantes... As mesas do bar vão se esvaziando, o garçon batuca os dedos no balcão à espera do pedido da saideira, um dos amigos boceja e lembra que ainda é terça-feira. Enfim, é hora de procurar com quem relaxar. E ele já sabe onde ir.

Não se importa muito com a beleza. Claro que é bom ter alguém bonito do seu lado, mas ele só queria se satisfazer, ninguém ia ver. Na primeira esquina estão duas. Muito vulgares. Um pouquinho mais pra frente tem mais uma. Bonita. Mas ainda não é essa. Tem uma cara estranha. Depois de contornar vários quarteirões daquela área, eis que ele encontra alguém especial.

Ele encosta o carro, ela encosta no carro sorrindo e eles começam a conversar. Enquanto combinam o preço, ele acaricia delicadamente a barriga completamente exposta da moça. Sobe os dedos. Desce. Faz círculos em volta do umbigo. Ela é linda, ele pensa. Ela entra no carro, eles vão para o apartamento dele. No caminho, conversam sobre tudo, ele conta o dia foda que teve.

Já no apartamento, ele faz questão de oferecer alguma coisa para ela beber. Ela faz tudo que ele quer. Ele se diverte, mas quer que ela goste. Depois deita cansado e ainda pede uma massagem. Conforme ela massageia suas costas, ele elogia sua delicadeza, conta mais uma vez sobre o dia foda, faz planos para que o dia seguinte não repita o desastre de hoje, comenta a programação do fim de semana, e, sem perceber, vai se virando, bocejando, abraçando a moça cujo nome real ele nem deve saber e se ajeitando confortavelmente na cama com ela em seus braços, numa silenciosa confissão de que era isso que ele queria e precisava.

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